UM DIA EU TIVE FOME, E VOCÊ ME ALIMENTOU.

por TIAGO FERRO PAVAN

(Adaptação da mensagem de Paulo Roberto Gaefke, publicada no livro "Quando é preciso Viver")

 

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CENA 01

(Entram em cena, pai e filho caminhando em meio a um sol escaldante)

AGENOR: Ahh meu filho, quase o dia todo e nada de emprego, mas amanhã será um novo dia...

RICARDINHO: Humm que cheirinho de pão quentinho... Pai, tô “cheiinho” de fome!!!

AGENOR: (Com os olhos marejados de lágrimas) Só mais um pouco de paciência meu filho. Deus vai nos ajudar.

RICARDINHO: Mas pai, desde ontem não comemos nada, eu tô com muita fome, pai!!!
(Agenor envergonhado, triste e humilhado em seu coração de pai)

AGENOR: Espere um pouco aqui na calçada meu filho que já volto (enquanto isso procura em algumas latas de lixo por alimento, sem sucesso entra na padaria à sua frente).

(Ao entrar dirige-se a um homem no balcão)

AGENOR: Meu senhor, eu estou com o meu filho de apenas 6 anos na porta, com muita fome, não tenho nenhum tostão, pois saí cedo para buscar um emprego e nada encontrei, eu lhe peço que pelo amor de Deus me forneça um pão para que eu possa matar a fome desse menino, em troca posso varrer o chão de seu estabelecimento, lavar os pratos e copos, ou outro serviço que o senhor precisar!!!

(Amaro, o dono da padaria, estranha aquele homem de semblante calmo e sofrido, pedir comida em troca de trabalho)

AMARO: Chame seu filho, por favor.
(Agenor pega o filho pela mão e apresenta-o a Amaro)

AMARO: Sentem-se aqui por favor, que eu já volto.

(Após alguns minutos Amaro volta com dois pratos com comida - Prato Feito - arroz, feijão, bife e ovo)

RICARDINHO: Parece até um sonho pai.

(Grossas lágrimas descem dos olhos de Agenor já na primeira garfada)

(Amaro se aproxima de Agenor e percebendo a sua emoção, brinca para relaxar)

AMARO: Ó Maria!!! Sua comida deve estar muito ruim... Olha o meu amigo está até chorando de tristeza desse bife, será que é sola de sapato?!
(Imediatamente, Agenor sorri)

AGENOR: Não, não... Nunca comi comida tão apetitosa, agradeço a Deus por ter esse prazer.
AMARO: Sossegue seu coração homem, almoce em paz e depois conversamos sobre trabalho.
(Mais confiante, Agenor enxuga as lágrimas e começa a almoçar, já que sua fome já estava nas costas)

(MÚSICA)

CENA 02

(Após o almoço...)

AMARO: Venha até aqui Agenor, sente-se para que possamos conversar.

AMARO: Como esta sua situação homem?

AGENOR: Ahh meu bom senhor... Faz mais de 2 anos que perdi o emprego e desde então, sem ter uma especialidade profissional, sem estudos, estou vivendo de
pequenos 'biscates aqui e acolá', mas há 2 meses que não recebo nada.

AMARO: Vamos fazer o seguinte então, amanhã espero você aqui, pois vou contratá-lo para serviços gerais na padaria, certo?! E tome isso (entrega uma cesta básica com alimentos para Agenor).

AGENOR: Mas é muita comida, deve dar para pelo menos uns 15 dias.

AMARO: Aceite homem, é de bom grado que lhe dou.

AGENOR: (com lágrimas nos olhos) Lhe agradeço a confiança meu bom homem e amanhã sem falta nem atraso estarei aqui para início no trabalho.
(Agenor sai de cena com o filho)

MARIA: (Sai da cozinha de avental) Quem era aquele homem? E por que vai ajudá-lo?

(Amaro logo sorri, pois nem ele sabia porque estava ajudando)

AMARO: Ele e eu temos a mesma idade, 32 anos, e histórias diferentes, mas algo dentro dele ou de mim, sei lá, algo me chama para ajudar aquela pessoa.

(Saem de cena)

CENA 03

(Ao chegar em casa com toda aquela 'fartura', Agenor é um novo homem, sentia esperanças, sentia que sua vida iria tomar novo impulso).

AGENOR: Mulher... Mulher!!! Venha aqui, venha ver...

MULHER: O que foi homem de Deus?

AGENOR: Veja, quanta fartura!

MULHER: Venham crianças, papai trouxe comida!

AGENOR: Consegui emprego. A partir de agora as coisas vão mudar meu amor, sinto novamente esperança em que nossa vida irá mudar.

MULHER: Que Deus nos abençoe querido!

(SAEM DE CENA)

CENA 04

(No dia seguinte, às 5 da manhã, Agenor estava na porta da padaria ansioso para iniciar seu novo trabalho)

AGENOR: (Ansioso) Bom dia seu Amaro!

AMARO: (Bem-Humorado) Bom dia Agenor! Muito bem, pontualmente as 5 da manhã meu caro, quanto entusiasmo hein... Fico feliz que tenha aceitado a proposta... Vamos ao trabalho?!

(MÚSICA)

(Agenor faz diversas cenas enquanto toca o fundo musical – varrer chão, secar louças, recolher pratos e etc...)

CENA 05

AMARO: Um ano se passou Agenor, e até hoje você foi o mais dedicado trabalhador deste estabelecimento, sempre honesto e extremamente zeloso com seus deveres.

AGENOR: Não faço mais do que minha obrigação...

AMARO: Não seje modesto meu amigo. Bom Agenor, mudando de assunto, você sabia que a escola aqui do bairro abriu vagas para a alfabetização de adultos?

AGENOR: Não sabia não.

AMARO: Faço questão que você vá fazer sua matricula e de que comece a estudar.

AGENOR: (Surpreso) Mas eu, eu...

(Amaro entrega a Agenor um caderno e uma caneta)

AMARO: ...Ahh e as aulas já começam amanhã...

(os dois se abraçam fortemente)

CENA 06

(Sofá com uma ou duas pessoas sentadas aguardando)

SECRETARIA: Vocês podem entrar ele já vai atende-los.

(Toca o telefone)

SECRETARIA: Escritório do Dr. Agenor Baptista de Medeiros, advogado, bom dia! - Sim, eu dou o recado. Tchau!

(Toca o telefone)

SECRETARIA: Escritório do Dr. Agenor Baptista de Medeiros, advogado, bom dia! – Já esta agendado. Até mais!

(Toca o telefone)

SECRETARIA: Escritório do Dr. Agenor Baptista de Medeiros, advogado, bom dia... (enquanto atende vai saindo de cena)

AGENOR: (Entra em cena) Dona Ana, meio dia... Vou descer para tomar um cafezinho na padaria do meu amigo Amaro.

(SAI DE CENA)

CENA 07

AMARO: Estou impressionado em ver meu 'antigo funcionário' tão elegante.

AGENOR: Deixe de conversa e venha logo me dar um abraço!

AMARO: Já se passaram uns doze anos, não é meu amigo?!

AGENOR: E eu nunca me esqueci do meu primeiro dia de aula: a mão trémula nas primeiras letras e a emoção da primeira carta. Graças a você meu amigo! E graças a você, hoje, abri meu próprio escritório de advocacia!

AMARO: E você nunca me decepcionou... Fez por merecer!

(Sentam para tomar um cafezinho e conversar)

(MÚSICA)

(SAEM DE CENA)

CENA 08
(Dois homens entram conversando e sentam lendo jornal)

HOMEM 01: Você já ouviu falar em Dr. Agenor Baptista?

HOMEM 02: Como não. Faz mais ou menos uns dez anos que o homem abriu seu escritório de advocacia, onde conta com uma clientela que mistura os mais necessitados que não podem pagar, e os mais abastados que o pagam muito bem.

HOMEM 01: Parece que ele resolveu criar uma Instituição que oferece aos desvalidos da sorte, que andam pelas ruas, pessoas desempregadas e carentes de todos os tipos, um prato de comida diariamente na hora do almoço.

HOMEM 02: Poxa, que iniciativa legal, o que será que motivou a ele fazer isso, não é mesmo.

HOMEM 01: Aqui no jornal ainda diz mais. Parece que são mais de 200 refeições que são servidas diariamente naquele lugar chamado “Casa do Caminho” que é administrado pelo seu filho, o nutricionista Ricardo Baptista.

HOMEM 02: Que exemplo de solidariedade...

(SAEM DE CENA CONTINUANDO A CONVERSA)

CENA 09

RICARDO: Tudo mudou, tudo passou, mas a amizade daqueles dois homens, Amaro e Agenor impressionava a todos que conheciam um pouco da história de cada um. E por desfecho do destino, aos 82 anos, os dois faleceram no mesmo dia, quase que à mesma hora, morrendo placidamente com um sorriso de dever cumprido.

(MÚSICA)

Por isso hoje mandei gravar esses dizeres na instituição de caridade que meu pai fundou com tanto carinho:

'Um dia eu tive fome, e você me alimentou. Um dia eu estava sem esperanças e você me deu um caminho. Um dia acordei sozinho, e você me deu Deus, e isso não tem preço. Que Deus habite em seu coração e alimente sua alma. E, que te sobre o pão da misericórdia para estender a quem precisar!!!'

- FIM -

 

DICAS

PERFIL DOS PERSONAGENS:

AGENOR: Nas cenas 1, 2 e 3 é um homem sofrido com 32 anos de idade. Nas cenas 4 e 5 se mostra mais entusiasmado. Nas cenas 6 e 7 já tem uma boa idade e usa terno e gravata.

RICARDINHO (CRIANÇA): Esta presente nas cenas 1, 2 e 3, caracterizado como uma criança pobre de mais ou menos 6 anos.

AMARO: Típico dono de bar/padaria, classe média baixa, compreensivo e calmo. Na cena 7 aparenta mais a idade.

MARIA: Típica cozinheira, avental, toalha de louça e etc...

FILHOS DE AGENOR: Crianças pobres, com idades por volta dos 4 aos 8 anos.

ESPOSA DE AGENOR: Mulher de garra, temente a Deus, com idade por volta de 26 a 30 anos.

ANA (SECRETÁRIA)

DOIS HOMENS (CLIENTES)

HOMEM 01

HOMEM 02

RICARDO (ADULTO): Filho de Agenor já adulto, bem vestido, orgulhoso do pai.

CENÁRIO: (Sugestões) Cenas 1 e 2 se passam primeiramente na rua e logo em seguida dentro da padaria (utilizar mesas e cadeiras); Cena 3 se passa já na casa de Agenor (utilizar um pano no chão para as crianças); Cena 4, 5 e 7 voltam a ocorrer na padaria; Cena 6 representa uma sala de espera (utilizar sofá e mesinha com revistas); Cena 8 se passa na rua, dispensa cenário, no máximo um banco; Cena 9 também dispensa cenário.

TRILHA SONORA: A sonoplastia fica a critério de quem for montar a peça, desde que não descaracterize o verdadeiro sentido do texto.

ADEREÇOS: (descritos na peça)

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